
Andy Wallace moldou o rock dos anos 90
Se você ouviu rock nos anos 1990 e 2000, certamente já viu o nome de Andy Wallace nos créditos de vários discos. A partir de 1986, quando ele trabalhou como engenheiro de som e técnico de mixagem de dois discos fundamentais – “Raising Hell”, do Run-DMC, e “Reign in Blood”, do Slayer, ambos produzidos por Rick Rubin – Wallace esteve envolvido com alguns dos artistas mais importantes dos últimos 40 anos.
A lista é imensa: Nirvana (“Nevermind”), Rage Against the Machine (“Rage Against the Machine” e “Evil Empire”), Helmet (“Meantime” e “Betty”), L7 (“Bricks are Heavy”), Sepultura (“Arise”, “Chaos A.D.” e “Roots”), Sonic Youth (“Dirty”), Screaming Trees (“Sweet Oblivion”). Wallace também teve papel fundamental na explosão do nu metal na virada dos 90 para os 2000, em álbuns de Limp Bizkit (“Three Dollar Bill, Y’all”), Linkin Park (“Hybrid Theory” e “Meteora”), System of a Down (“Toxicity”), Slipknot (“Iowa”) e Korn (“Untouchables”).
Mas que ninguém pense que ele só fez discos de rock pesado: Andy Wallace produziu “Grace” (1994), a obra-prima de Jeff Buckley, e trabalhou em discos de Ben Folds Five, Paul McCartney, Bruce Springsteen, Patti Smith e Nathalie Imbruglia, além de ganhar um Grammy por um LP de Sheryl Crow. Andy Wallace tem 78 anos e é uma das figuras mais misteriosas do rock. Raramente deu uma entrevista, com exceção de canais sobre produção musical, e pouco se sabe sobre a vida dele. Até agora.
Há alguns dias, Rick Beato, dono do melhor canal sobre música no Youtube, pôs no ar uma entrevista de mais de duas horas com Wallace. O papo é sensacional e pode ser visto com legendas automáticas em português. É uma conversa reveladora sobre a vida e obra de um cara que simplesmente moldou o rock dos anos 1990 e 2000. Veja aqui:
Wallace nasceu em Nova Jersey e fez fama entre bandas num estúdio que montou em Los Angeles no início dos anos 1970. Em meados da década seguinte, volta para a costa leste dos EUA e começa a trabalhar primeiro com o DJ e produtor Artur Baker, conhecido por discos de rap e eletrônico (New Order) e depois com o produtor Rick Rubin, que expõe Wallace a artistas mais ligados ao rock pesado e ao hip hop.
Na conversa com Beato, Wallace fala da importância do LP “Reign in Blood”, do Slayer, um marco do thrash metal, mas que abriu os olhos de muita gente para o potencial comercial de suas mixagens. “Era um som extremamente agressivo”, diz Wallace, “mas eu queria fazer com que cada instrumento pudesse ser perfeitamente ouvido e que várias partes das músicas fossem verdadeiros socos na cara”.
Wallace conta que Kurt Cobain gostou tanto da agressividade e do som de “Reign in Blood” que pediu à gravadora para contratar Wallace para remixar “Nevermind” depois que o mix original, feito pelo produtor Butch Vig, não agradou totalmente ao Nirvana. Curiosamente, Cobain depois mudaria de ideia e passaria a considerar a mixagem de Wallace muito comercial e radiofônica, tanto que exigiu trabalhar com Steve Albini no álbum de estúdio seguinte, “In Utero”, que tem um som mais cru e abrasivo que “Nevermind”.
Rick Beato é produtor musical e os papos que têm com técnicos de gravação e outros produtores frequentemente descambam para discussões bastante técnicas (que efeitos ele usou em determinada passagem, posicionamento de microfones, etc.), e aqui não é diferente. Mas o que fica, mesmo para leigos em produção musical, é o extremo cuidado e perfeccionismo que Wallace traz a toda música que produz ou remixa. O cara é um obsessivo.
Um dos trechos mais bonitos da conversa gira em torno de “Grace”, o maravilhoso álbum que Wallace produziu para Jeff Buckley em 1994. O produtor conta como ele e Buckley escolheram as canções do disco avaliando a reação que os fãs tinham a cada música nos shows intimistas que Buckley costumava fazer no clubinho Sin-é, em Nova York. “Eram shows bem espartanos, só Jeff e a guitarra, e ele era um maravilhoso guitarrista”, conta Wallace. “Na hora de gravar ‘Grace’ tivemos uma ótima banda de apoio, mas Jeff e eu fizemos questão de gravar alguns takes só com ele e a guitarra, para recriar a atmosfera daqueles shows do Sin-é. Jeff não curtia tocar sem plateia, então chamamos toda a equipe do estúdio e montamos uma pequena plateia para ver Jeff”.
Rick Beato complementa as entrevistas tocando trechos de canções famosas produzidas ou mixadas por Wallace, e é fascinante ver o produtor comentar partes de “Killing in the Name” ou a famosa introdução de “Smells Like Teen Spirit”. “Era uma canção especial”, diz Wallace sobre o clássico do Nirvana, “e eu só sabia que toda pequena parte, todo break, todo gancho, precisava ser muito marcante, então trabalhamos duro para conseguir aqueles sons”.
Só fiquei com pena por Beato não ter perguntado nada a Wallace sobre os três discos em que ele trabalhou com o Sepultura. Teria sido muito interessante vê-lo falar sobre o monstruoso som de bateria de “Roots”. Fica pra próxima.
Um ótimo fim de semana a todas e todos.
7 comentários em "Andy Wallace moldou o rock dos anos 90"
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O canal do Beato é ótimo. Vários quadros legais, inclusive alguns mais técnicos (eu não toco nem sineta de porta de entrada).
Ele tem uma entrevista bem leval com p Brendan O’Brien, que foi figurinha carimbada no final dos 90 até meados da década de 2010.
Vi a do O’Brien, muito legal.
André, então a partir de hoje agradeço muito ao Andy Wallace por ter moldado o meu gosto musical, que aconteceu justamente nos anos 1990 e 2000 e não sabia de sua existência até o texto de hoje!!!
E sobre o trabalho dele com o Sepultura, é uma boa deixa para um dia ter uma entrevista sua com ele, não acha???
Cara, adoraria, mas o Wallace levou ANOS para topar falar com o Beato.
O canal é demais e esse Andy Wallace tem um currículo impressionante! Não sabia do doc. do Jeff Buckley mas vi que estreia hj nos EUA!
Barça, falando em Jeff Buckley, está pra sair um documentário sobre ele: “It’s Never Over”
Já vi o trailer, parece bem legal.