
A jornada sublime de Alice Coltrane
Em 21 de fevereiro de 1971, quando subiu ao palco do prestigioso Carnegie Hall, em Nova York, com uma banda primorosa que incluía, entre outros, os saxofonistas Pharoah Sanders e Archie Shepp, os bateristas Clifford Jarvis e Ed Blackwell e os contrabaixistas Cecil McBee e Jimmy Garrison, a harpista e pianista Alice Coltrane acabara de iniciar uma nova fase na carreira.
Alice tinha 37 anos e ainda se recuperava do baque de perder o marido e colega, o genial John Coltrane, morto em 1967, aos 40 anos, de uma doença do fígado que muitos atribuem ao prolongado uso de heroína e álcool. Alice tocava na banda de John (havia substituído ninguém menos que o pianista McCoy Tyner!), e o casal estava cada vez mais imerso na cultura indiana e nos ensinamentos de yoga e meditação.
Esse show do Carnegie Hall era um evento beneficente para o Instituto Integral de Yoga de Swami Satchidananda Saraswati, um guru e mestre de yoga indiano, que era mentor e amigo de Alice. Poucos dias antes, ela havia lançado o LP “Journey in Satchidananda”, dedicado a Swami, uma obra-prima do “spiritual jazz”, em que Alice sua banda gravaram cinco temas lúdicos e viajantes, inspirados pelos ensinamentos de Swami (com exceção de “Something About John Coltrane”, uma ode ao maior amor da vida de Alice).
Em 2018, escrevi sobre a música devocional e extasiante de Alice Coltrane. Leia aqui.
Veja aqui um pequeno documentário, com legendas automáticas em inglês, sobre Alice Coltrane, lançado em 1970:
Acaba de sair, pelo selo Impulse, “The Carnegie Hall Concert”, registro dessa apresentação de Alice Coltrane. O disco tem quatro temas que se estendem por 80 minutos de uma música das mais sublimes e imaginativas.
O show foi dividido em duas partes: na primeira, Alice e banda tocam duas canções de “Journey to Satchidananda”, a faixa-título e “Shiva-Loka”, com Alice na harpa. Ela depois passa para o piano e lidera a banda em duas versões de músicas de John Coltrane, a furiosa “Africa” e a plangente “Leo”.
Não é um disco fácil. Alice Coltrane era uma vanguardista e dividia com John o gosto pelo experimentalismo e risco. Mas ouvir “Live at Carnegie Hall” é mergulhar numa experiência sonora única criada por músicos de primeira, que também homenageavam John Coltrane, o líder e guru musical de todos ali, e que os havia deixado tão repentinamente.
Um ótimo fim de semana a todas e todos.
9 comentários em "A jornada sublime de Alice Coltrane"
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Já tentei, mas nãoi consigo gostar de Jazz… alguma dica de por onde recomeçar?
Tenta começar pela série do Ken Burns: https://www.youtube.com/watch?v=fZZhieONyto
Valeu, André… vou ver hoje mesmo.
Cara comece pelo disco instrumental dos Beastie Boys The In Sound from Way Out. Depois passe para Medeski, Martin and Wood, talvez pelo Shack-Man, depois a fase elétrica do Miles Davis ou do Herbir Hancock. Não tem erro
Acho Louis Armstrong e jazzistas de New Orleans um bom começo também.
André, semana passada reli pela enésima vez o livro “A Love Supreme – A Criação do Álbum Clássico de John Coltrane “, de Ashley Kahn. Já leu esse? Acho muito foda.
Vacilo meu, nunca li. Vai pra fila.
Somente uma pequena correção,: Jimmy Garrison.. contra-baixista legendário.
Faltou o “S”, obrigado.