A carta de amor de Scorsese a Michael Powell
A plataforma MUBI exibe “Feito na Inglaterra – Os Filmes de Powell e Pressburger”, um documentário britânico sobre Michael Powell (1905-1990) e Emeric Pressburger (1902-1988), cineastas, roteiristas e produtores que, juntos, criaram a produtora The Archers e realizaram diversas obras-primas do cinema como “Coronel Blimp – Vida e Morte” (1943), “Neste Mundo e No Outro” (1946) e “Sapatinhos Vermelhos” (1948).
Chamar esse filme de “documentário” pode ser enganoso. Mais correto seria chamá-lo de uma declaração de amor de Martin Scorsese ao cinema da dupla que tanto o marcou. Scorsese é o único entrevistado, e o filme se resume a ele falando, em ordem cronológica, dos filmes de Powell e Pressburger. Parece tedioso, mas, acredite, é impossível parar de assistir. E o primeiro impulso depois de vê-lo é explorar todo o catálogo da dupla.
Powell e Pressburger fizeram filmes altamente criativos e lúdicos. Powell dirigia e Pressburger escrevia os roteiros. Os dois não tinham o menor interesse em realismo, e mesmo filmes que fizeram sobre temas sérios e soturnos, como a guerra, traziam uma estética sonhadora e surrealista. “Narciso Negro”, o arrebatador drama erótico sobre freiras que estabelecem um convento no Himalaia, foi inteiramente filmado na Inglaterra, usando cenários pintados que conferem ao filme um ar fantasmagórico e irreal.
O auge da fama de Powell e Pressburger durou de 1943 a 1951, quando fizeram 11 filmes e seus maiores clássicos. Do outro lado do Atlântico, Martin Scorsese, ainda criança, assistia aos filmes numa TV em preto e branco, sem sentir o impacto do Technicolor vibrante dos filmes, mas ainda assim ficou obcecado pelo que viu. Scorsese detalha cenas de filmes de Powell e Pressburger que ele usaria como inspiração depois em seus próprios filmes, como “Taxi Driver” e “Touro Indomável”.
Mesmo que você nunca tenha visto um filme de Powell e Pressburger, vale muito a pena ver “Feito na Inglaterra”. É maravilhoso ver Scorsese dissecando os filmes da dupla e contando a história de vida dos cineastas. No início dos anos 70, quando Powell e Pressburger já haviam se separado, Scorsese conhece Michael Powell e fica chocado ao descobrir que seu ídolo está em sérias dificuldades financeiras. Scorsese o convida a ir aos Estados Unidos, onde Powell trabalha com Francis Ford Coppola e acaba se casando com Thelma Schoonmaker, editora dos filmes de Scorsese.
Concordo inteiramente com Scorsese quando ele diz que Powell e Pressburger conseguiram fazer filmes “mainstream” sem abdicar do radicalismo estético e temático. Filmes como “Sapatinhos Vermelhos” foram imenso sucesso de bilheteria, mas são obras radicais, que reinventaram o cinema e influenciaram gente como Brian De Palma, David Lynch e Pedro Almodóvar. O universo de Powell e Pressburger é um mundo maravilhoso e que merece ser explorado.
Uma ótima semana a todas e todos.
8 comentários em "A carta de amor de Scorsese a Michael Powell"
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Não os conhecia e apenas essa frase já me faz querer ver : “Narciso Negro”, o arrebatador drama erótico sobre freiras que estabelecem um convento no Himalaia.
Depois diz o que achou!
Imperdível, hein.
Vale muito a pena ver.
Saiu uma caixa da Versátil e o Blu Ray dos Sapatinhos Vermelhos. Não sei se ainda estão em catalogo.
Tem razão.
Bela dica, obrigado.
Depois diz o que achou!