A obra-prima do Wilco faz 20 anos
Um disco com 20 anos de idade já pode ser considerado um clássico? Se estivermos falando de “Yankee Hotel Foxtrot”, quarto álbum do Wilco, acho que sim. É um LP marcante de uma das bandas mais consistentemente brilhantes das últimas três décadas.
O LP acaba de ser relançado em edição de luxo. São nada menos de oito CDs, incluindo o álbum remasterizado, gravações de shows, apresentações em programas de rádio, entrevistas, e 84 faixas inéditas, com demos e versões instrumentais. Exagero? Pode ser. Eu me satisfaço com o disco, mas entendo o apelo para quem é muito fã da banda e gostaria de entender, por meio do progresso das demos, a evolução do álbum.
A história da produção de “Yankee Hotel Foxtrot” é fascinante. Em 2000, quando o disco começou a ser gravado, o Wilco tinha três álbuns e era considerado um dos grandes nomes do cenário alt-country norte-americano, que incluía Son Volt, The Jayhawks, Ryan Adams, Drive-By Truckers e outros. A banda anterior do líder do Wilco, Jeff Tweedy, foi o Uncle Tupelo, espécie de pioneira nesse subgênero que aproximava a música country do indie rock e, em alguns casos, do punk.
Havia uma grande tensão interna no Wilco, provocada pela colisão de dois grandes egos e dois grandes talentos, os de Tweedy e de seu então parceiro, Jay Bennett. Estava claro que não havia espaço para os dois. Tweedy começou, pouco a pouco, a empurrar Bennett para fora da banda.
Nessa mesma época, entrou no grupo o baterista Glenn Kotche. Além de exímio baterista e percussionista, Kotche era ligado ao experimentalista Jim O’Rourke (que tocou com o Sonic Youth) e tinha um gosto por aventuras sonoras que extrapolavam a “caixinha” do alt-country. Com Kotche a bordo, a música do Wilco tomou novos rumos (que se tornariam ainda mais radicais em 2004, com as chegadas do guitarrista Nels Cline e do multi-instrumentista Pat Sansone).
Quando a banda mostrou “Yankee Hotel Foxtrot” para sua gravadora, a Reprise, selo da Warner, o disco foi rejeitado por ser anticomercial e não ter nenhum hit de rádio. A banda rompeu o contrato com a Reprise e assinou, curiosamente, com outro selo ligado à Warner, o Nonesuch. Um caso raro – único, talvez? – de um artista que tem um trabalho recusado por uma gravadora e é abraçado por outra, ligada ao mesmo grupo que rechaçara o álbum.
Para atrapalhar ainda mais o lançamento, “Yankee Hotel Foxtrot” foi originalmente programado para sair em 11 de setembro de 2001, mas questões de produção atrasaram o lançamento em uma semana. Jay Bennet foi despedido do Wilco assim que o álbum foi finalizado.
Toda a saga de composição, gravação e lançamento de “Yankee Hotel Foxtrot” está lindamente contada no documentário “I Am Trying to Break Your Heart – A Film About Wilco”, de Sam Jones:
O lançamento do álbum marcou o período mais fértil e criativo da banda, que lançou, na sequência, outros dois discos marcantes: “A Ghost is Born” (2004) e “Sky Blue Sky”. Aguardemos as caixas comemorativas desses dois discos.
Um ótimo fim de semana a todas e todos.
8 comentários em "A obra-prima do Wilco faz 20 anos"
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o instagram do Glenn Kotche é bem legal. ele posta vídeos de batidas que ele cria e ainda posta a partitura.
Gosto dos dois primeiros álbuns do Wilco, esse “Yankee Hotel Foxtrot” nunca me desceu.
Acho que o Tweedy tem um sério problema com pessoas chamadas Jay.
🙂
Um ótimo disco de uma grande banda. O show deles no Circo foi maravilhoso! Pena que os últimos álbuns sejam tão fraquinhos…
Também acho fracos.
Amo o Wilco, já vi meia dúzia de shows, mas Cruel Country é bem chatinho mesmo.
André, procede a história que após a recusa da Reprise a banda liberou o álbum na internet e foi um sucesso, o que redundou na assinatura com o Nonesuch?
Abs
Não sei se foi a liberação das faixas na web que fez crescer o interesse da Nonesuch, mas é fato que as faixas foram muito ouvidas.