ago/2022

Confissões de Ozzy Osbourne

Por André Barcinski

Confissões de Ozzy Osbourne

Por André Barcinski

Antes de qualquer coisa, um aviso: não tenho nenhuma relação comercial com a Editora Belas Letras. Para quem está chegando agora ao blog, vale lembrar que não faço publieditorial de nenhum tipo. Se indico algum produto, é porque acho que ele é merecedor do tempo dos leitores.

Dito isso, vamos ao que interessa: a Belas Letras está relançando no mercado uma autobiografia das mais divertidas: “Eu Sou Ozzy”, de Ozzy Osbourne. Aliás, dizer que um livro é “de” Ozzy é força de expressão. Ozzy é disléxico e já disse que não sabe ler direito, quanto mais escrever. O livro foi escrito por Chris Ayres, jornalista e roteirista britânico, que deve ter sofrido um bocado para entender os grunhidos do Homem-Morcego. Sei disso porque já entrevistei Ozzy algumas vezes e passei mais tempo ouvindo a gravação para tentar decifrar os muxoxos do que, propriamente, conversando com o homem.

Quando é possível entender o que ele diz, Ozzy é MUITO engraçado. Em 1993, tive o seguinte diálogo com ele:

– Quais suas lembranças do Rock In Rio, em 85?

– Foi muito divertido. Só me decepcionei um pouco porque achei que ia ver um monte de mulheres lindas no Rio…

– Mas não me diga que você não conheceu nenhuma mulher bonita no Rio?

– Não deu, minha esposa me deixou trancado no quarto do hotel (risos). Ela estava com medo dos assaltos. O porteiro do hotel falou para tomarmos cuidado.

– Mas você não chegou a conhecer nada do Rio?

– Só deu para visitar o Cristo Redentor, que é muito legal. Mas aconteceu uma coisa engraçada. Um fotógrafo quis me levar para fazer umas fotos numa cachoeira e quando nós chegamos lá eu vi estendido no chão um monte de pratos cheios de frutas. Estava morrendo de fome, então eu fui comer uma delas. Aí, todo mundo ficou apavorado. O tal do fotógrafo só faltou chorar. Até hoje não entendi por quê.

Em “Eu Sou Ozzy”, trechos assim surgem aos montes. Em meio a histórias sobre como inventou o heavy metal com outros três delinquentes em Birmingham, Ozzy solta pérolas:

“Meu pai sempre disse que eu iria fazer alguma coisa importante algum dia.
‘Sinto isso, John Osbourne”, ele me dizia, depois de algumas cervejas. Ou você vai fazer algo muito especial, ou vai acabar na cadeia.’ E ele estava certo, meu velho pai. Fui parar na cadeia antes de completar dezoito anos.”

Em meados dos anos 90, fiz outra entrevista com Ozzy, em Los Angeles. Na ocasião, perguntei se ele não tinha interesse em fazer uma autobiografia. “Não tenho condição”, disse, com sinceridade. “Tenho um buraco negro no meu cérebro, tomei tanta droga e fiz tanta merda entre 1970 e 1982 que não lembro nada daquele período”. Por isso, fiquei surpreso quando soube do lançamento de “Eu Sou Ozzy”.

Naquela entrevista, Ozzy deu uma das respostas mais legais que já recebi de um artista. Perguntei por que, numa convenção de executivos da CBS à época do lançamento de um de seus primeiros discos solo, no início dos anos 80, Ozzy deu uma dentada e arrancou a cabeça de um pombo. “Porque os engravatados da gravadora não confiavam em mim”, disse Ozzy. “Mas eles passaram a confiar em você depois que você comeu a cabeça de um pombo?”, respondi. “Não”, disse Ozzy. “Mas pelo menos ficaram com medo de mim e passaram a fazer o que eu sugeria”. Brilhante.

Um ótimo fim de semana a todos.

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