Crítica: “Um Completo Desconhecido”
Por André Barcinski
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22 comentários em "Crítica: “Um Completo Desconhecido”"
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Achei Dylan for Dummies. Filme bem feito, mas não é pra quem já conhece Dylan. É pra manter ele relevante pros jovens e manter o catálogo vivo. E assim como achei o ator escolhido pra fazer o Elvis nada a ver na cinebiografia do Johnny Cash, neste é achei o ator que faz o Cash equivocado. Cash abrir a boca e não ter aquele vozeirão?
Interessante perceber que o filme balança entre um Dylan misterioso e outro beirando o indiferente. É como se ele flutuasse pela história, ignorando qualquer pensamento contrário ao seu, e atropelando todo o resto com sua visão musical.
Acho que acertou em cheio na crítica de que faltam dúvidas ao personagem. Mas filme lindo de ver, e com algumas das melhores canções do planeta.
Acho que dizer que o filme promove uma santificação do Dylan é uma meia verdade. Isso de fato acontece ao nível artístico, quando todos reconhecem que ele é um artista genial (e como não), mas seguramente não acontece a nível pessoal, sendo que o filme faz questão de mostrar ele sendo um tremendo babaca com todos ao redor (e sobretudo as mulheres). A dificuldade (que me parece intrínseca a toda cinebiografia) é de como retratar o processo de criação artística – e não me lembro de nenhuma que seja muito bem sucedida nisso.
Concordo que o Dylan no filme não tem um arco definido, mas poxa, esse não é o próprio espírito do Dylan? No fundo, ele é esse cara que não adere à nada, que mente sobre suas origens, que vai pulando de tendências e que se reinventa o tempo todo: “um completo desconhecido” para os outros e talvez para si mesmo. Ele é esse cara mesmo que “vai embora ou deixa o outro ir embora, sem respostas”, que caiu na cena folk como um anjo e foi embora como Judas. Um biografado que escapa da biografia.
Nesse sentido, vejo o filme mais sobre o impacto do Dylan na cena folk do que sobre o Dylan em si. Logicamente, o filme do Todd Haynes é ainda mais fiel ao espírito dele, mas acho impossível atingir tal complexidade dentro de uma lógica mais convencional como a do Mangold. Ainda assim, acho que os pontos positivos ultrapassam em muito os negativos. Não dá nem pra comparar com as outras biografias recentes, esse é cinemão de verdade.
Abraços e bom fim de semana!
Todo mundo tem arco dramático, o Dylan só faz questão de não mostrar o dele e explorar essa persona do ser enigmático que subitamente aparece na cena. O filme embarca na dele sem questionar. Por isso fiquei decepcionado com o Mangold, curvou-se à imagem sem explorar o personagem. E não concordo mesmo que o tema do filme seja o impacto dele na cena folk. Abraço!
Entendo a importância histórica e da relevância de Bob Dylan, da evolução que representa nas letras do rock, do contexto da geração beat que ele é herdeiro, mas não consigo gostar. A música é óbvia, pobre em melodia e harmonia, aquela gaitinha insuportável, o jeito blasé nas entrevistas, e a idolatria cega dos fãs mais chatos que acham qualquer citação, por mais banal que seja, um verso de Eneída. Parece que o filme acaba seguindo essa linha de adoração.
André, não vi o filme, mas pela descrição que fez, esse filme do Bob Dylan usa da mesma tática do Bohemian Rhapsody em relação ao Freddie Mercury ou da cinebio do Cazuza aqui no Brasil, no sentido de santificar demais o homenageado, e desprezar o seu lado humano…
Eu adorei o filme. Acho que Dylan é um personagem muito difícil de ser decifrado. Ele é um tanto controverso para não dizer mentiroso. Sabendo disso alinhei minhas expectativas e não me frustrei em nada. Nem mesmo os atalhos que você mencionou me incomodaram Xará. Como você bem disse, são artifícios para garantir a fluidez da narrativa. Assim, se fosse para ser literal na complexidade do personagem, talvez fosse melhor fazer uma série e não um filme. Sobre a personalidade pronta do Dylan no filme, eu penso que ela tenta retratar na verdade um músico que sabia muito onde queria chegar e isso me parece que ele sempre soube. No livro No Direction Home, de Robert Shelton, retrata-se um Dylan muito ambicioso e que não media esforços para alcançar seus objetivos. Ele roubava música do repertório de outros músicos, discos de amigos e por ai vai. De certa forma achei esse traço de sua personalidade bem retratado mas não na profundidade real. De toda forma recomendo o filme. 🙂
Realmente Barça, é um filme agradável e divertido. E entendi como um filme despretensioso também, o que é uma qualidade interessante considerando o calibre e a influência do biografado.
Deu vontade de ler novamente os deliciosos 3 volumes das Crônicas (o volume I foi lançado no Brasil, com prefácio do Peninha), escritos pelo próprio Mr. Zimmerman e rever o No Direction Home do Scorcese.
Eu gosto muito do Dylan, especialmente dessa fase que abrange discos como Bringing It All Back Home e Highway 61, que enxergo como o auge criativo dele.
Gostei muito do filme apesar de concordar com suas críticas, só não sei se um filme humanizando o Dylan seria necessariamente melhor. É um artista que sempre esteve se criando e mentindo sobre o que achava necessário (a história de que cresceu num “carnival”, por exemplo). Dramaticamente é um problema para um protagonista. Talvez o ideal teria sido fazer o filme do ponto de vista de outra pessoa (como em Amadeus, quando Mozart é visto pelos olhos do Salieri). O Haynes tentou outra abordagem que acho mais interessante como conceito do que agradável como filme.
De qualquer forma, sou fãzaço do Dylan e mesmo com seus problemas gostei do filme. O fio narrativo usando as canções acaba funcionando, embora não tenha sido o suficiente para torná-lo um filme excepcional. E não faço questão do grito de Judas ter sido mudado de lugar, está tudo dentro do essência do que o filme está falando. O próprio autor do livro “Dylan Goes Electric”, base do roteiro, disse que viu todas as mudanças como dramaticamente corretas.
Então por que não explorar esse lado mentiroso dele? Concordo que ter alguém de fora como personagem principal seria uma saída interessante, já que o roteiro meio que se exime de investigar mais a fundo a personalidade do Dylan.
Assisti ao filme no cinema nesta terça às 12:50. Eu era o único na sala!
Fiquei impresionado com as interpretações do Chalamet e da Monica Barbaro, ambos cantam e tocam violão muito bem.
“…o famoso grito de “Judas!”, entoado por fãs quando Dylan apareceu no palco tocando guitarra, não aconteceu em 1965 no Festival de Folk de Newport, mas na Europa no ano seguinte…”, cara eu vejo MUITO problema nisso, afinal de contas, quem vai assisitr um filme sobre Bob Dylan? Fãs de Bob Dylan, obviamente.
Faz direito, ou não faz, eu penso assim. Estou muito curioso para ver o filme, mas teu texto me deu calafrios… detesto essa coisa de endeusar pessoas notoriamente falhas, mesmo que extremamente talentosas.
Faz alguma diferença onde foi gritado? Ou o importante é o grito? Sinceramente, não vejo problema algum, não é um doc.
Faz toda diferença. Faz diferença onde o Dyaln nasceu? Onde os Beatles gravaram seus discos? Tu podes mudar outras narrativas, mas locais e datas são muito importantes na minha opinião.
Mas é um filme dramático, não é um livro sobre a vida do cara ou um documentário, que precisam ser 100% fieis aos fatos. Não estou dizendo que um filme pode “mentir”, mas é natural que eventos sejam cortados ou adaptados para efeito dramático, ou filmes biográficos teriam 25 horas de duração. Abraço.
Mas entendo teu ponto de vista, só discordo dele.
Um grande abraço pra ti e pra família. Espero que coma aquele peixe apetitoso no veleiro neste final de semana.
Valeu!
Discordo. Como eu disse antes, algumas narrativas podem ser mudadas, não estou exigindo o mesmo tecido da roupa do dia do show, ou a mesma sopa que ele tomou no Cafe Wha?, mas custava ter seguido a linha de tempo correta? Precisaria gastar 25 horas nesses detalhes tão importantes?
Abraço.
Resumindo: pra que o filme vai recriar um show na Europa só pra ter a cena do grito de “Judas”? Faz diferença onde a palavra foi gritada? O importante é que ela existiu e o que ela simboliza. Quando fizemos a série do Silvio Santos, tivemos de tirar toda a questão da mudança do nome da emissora do Silvio, de TVS para SBT, porque não fazia a menor diferença para a história e seria CHATÍSSIMO ter de explicar que a emissora mudou de nome. Abraço.
Aí é uma questão legal, André… e era sabido que haveriam reclamações sobre a série do SS, exceto se vocês o retratassem como Jesus Cristo. eu gostaria de saber por que mudaram de nome… Será que só eu? O filme do Dylan custou um cacete de grana, custava construir um palco, arranjar uns figurantes, e fazer a maldita cena direito? Coppola faria.
Que nome mudou?
Por que a TVS virou SBT… Eu gostaria de saber teria sido legal a série ter falado disso.